SEGUNDA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2022 Árbitras, mudanças táticas e fim de eras: 10 fatos provam que a Copa de 2022 jamais será esquecida

A épica decisão entre Argentina e França, empatada em 3 a 3 e vencida pelos sul-americanos na disputa de pênaltis, coroou uma Copa que já era histórica antes mesmo do jogo final.

O primeiro Mundial disputado no Oriente Médio marcou o fim de algumas eras no torneio e pode ter dado a largada para mudanças mais profundas no jogo e sua organização.

Teve de tudo nessa Copa do Mundo, principalmente gols - 172 no total, recorde na história do torneio. Despedidas, zebras, lesões, novidades táticas e tecnológicas, participação feminina e muito mais.

Abaixo, apresentamos 10 fatos que provam que o torneio no Catar jamais será esquecido:

 

1 - Adeus dos craques

 

Só o tempo confirmará, mas são muitos os indicativos de que craques como Cristiano Ronaldo, Messi e Modric fizeram suas despedidas em Copas do Mundo.

O português, com 37 anos, foi reserva nas últimas partidas de sua seleção no torneio e falou em tom de despedida após a eliminação para Marrocos. Já o croata, com a mesma idade, seguirá jogando pelo país, mas não sabe se resistirá até o Mundial de 2026.

Embora o argentino seja o único a ter cravado seu adeus em Copas, o caso dele é o mais imprevisível, já que o título conquistado sobre a França pode mudar tudo. O técnico da seleção, Lionel Scaloni, disse que reservaria uma vaga para ele em 2026, deixando a decisão nas mãos e nos pés geniais do camisa 10, eleito o melhor jogador do Mundial do Catar.

 

2 - Vai aumentar

 

Esta foi também a última Copa com 32 seleções divididas em oito grupos, formato iniciado em 1998 e utilizado em sete oportunidades. A partir de 2026, na edição que será disputada no Canadá, Estados Unidos e México, o torneio passará a contar com 48 participantes.

Porém, o novo regulamento ainda não está definido. Inicialmente, a Fifa tinha planejado a divisão das seleções em 16 grupos, mas já cogita reduzir para 12. Se isso acontecer, a quantidade de jogos na Copa aumentará consideravelmente, chegando a 104 – quarenta partidas a mais do que as atuais 64.

O formato atual é de fácil compreensão (duas seleções de cada chave se classificam para a fase final) e proporciona jogos emocionantes desde as primeiras rodadas. Já o modelo a ser adotado a partir de 2026 gera dúvidas e preocupações. Se a Copa tiver 16 grupos, nas quais duas equipes se classificam, empates nas duas primeiras partidas já garantirão a vaga nas oitavas, o que poderia estimular um comportamento defensivo das seleções.

Além disso, o número ímpar de times em cada grupo poderia permitir "resultados de conveniência" nas últimas rodadas. Já com 12 chaves, alguns terceiros colocados também avançarão, o que pode deixar o regulamento mais difícil de compreender.

 

Gianni Infantino, presidente da Fifa, quer aumentar número de participantes da Copa — Foto: Reuters

Gianni Infantino, presidente da Fifa, quer aumentar número de participantes da Copa — Foto: Reuters

 

3 - Primeiro passo

 

Após 92 anos de espera, foi justamente num país conservador e que restringe liberdades das mulheres que a Copa teve presença feminina no trio de arbitragem pela primeira vez. Embora apenas seis em universo de 129 escolhidos pelas Fifa, elas entraram para a história.

As árbitras e assistentes selecionadas foram: Neuza Inês Back (Brasil), Karen Diaz Medina (México), Yoshimi Yamashita (Japão), Salima Mukansanga (Ruanda), Stephanie Frappart (França) e Kathryn Nesbitt (Estados Unidos).

A estreia se deu em 1º de dezembro, no duelo entre Alemanha e Costa Rica, que teve participação de Stéphanie Frappart, Neuza Back e Karen Diaz Medina. Nos demais jogos, as mulheres atuaram como auxiliar ou quarta árbitra.

 

Stephanie Frappart e Neuza Ines Back; Copa do Mundo — Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay

Stephanie Frappart e Neuza Ines Back; Copa do Mundo — Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay

 

4 - Camisas 9 em mutação

 

O Mundial de 2022 mostrou a importância dos centroavantes - vide as seleções finalistas, que contaram com os gols e as boas atuações de Giroud e Julián Álvarez. Mas também evidenciou a necessidade de os jogadores dessa posição se adequarem às mudanças do futebol.

Grupo de estudos técnicos da Fifa apontou que os centroavantes receberam a bola 21% menos vezes nessa Copa do que na de quatro anos atrás, na Rússia. Eles também finalizaram 10% a menos.

Os números ajudam a explicar a mudança de movimentação e posicionamento desses jogadores. Eles passaram a receber muito mais a bola nas cotas dos zagueiros e laterais do que entre a linha de defesa e de meio-campo.

– Os times são tão compactos no meio e são tão muito mais intensos também, está cada vez mais difícil achar os espaços pelo meio, e por isso você precisa de um número 9 – disse o alemão Jürgen Klinsmann, um dos chefes dos estudos da Fifa.

 

Giroud celebra gol marcado pela França diante da Austrália — Foto: REUTERS

Giroud celebra gol marcado pela França diante da Austrália — Foto: REUTERS

 

Os centroavantes ganharam maiores preocupações defensivas, realizando 14% mais pressões para roubar a bola do que na Copa da Rússia. Por outro lado, finalizaram 10% a menos, o que os obrigou a serem mais precisos para conseguir marcar.

– Eu acho que a educação dos treinadores no mundo está se desenvolvendo e será uma necessidade o desenvolvimento de goleadores que tenham a qualidade de finalizar. Que sejam inteligentes durante o jogo, que sejam focados no que realmente precisa, eu acho que será um desenvolvimento a partir das crianças e também nas ligas ao redor do mundo em que os times profissionais vão procurar números 9. Haverá a necessidade dessa busca – explicou o francês Arsène Wenger, outro dos "cabeças" da área técnica da Fifa.

 

5 - Zebras

 

A final entre Argentina e França reuniu duas seleções até então bicampeãs mundiais, mas não foram poucos os resultados surpreendentes no Catar, a ponto de muita gente apontar essa como a Copa das zebras.

Quem diria que o time de Messi e companhia seria batido pela Arábia Saudita, de virada, na estreia? Ou que o Japão faria 2 a 1 na Alemanha e deixaria os tetracampeões mundiais fora da fase final? Houve também o Brasil derrotado por Camarões, Uruguai perdendo a vaga no grupo em que passou a Coreia do Sul, além de Marrocos vencendo Bélgica, Espanha e Portugal e tornando-se a primeira seleção africana semifinalista de um Mundial.

Ao mesmo tempo em que houve zebras, favoritismos foram confirmados. Essa foi a primeira vez em que as oito seleções que disputaram as quartas de final estavam entre as 25 melhores do ranking da Fifa.

 

Seleção do Marrocos antes da disputa do terceiro lugar da Copa do Mundo — Foto: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Seleção do Marrocos antes da disputa do terceiro lugar da Copa do Mundo — Foto: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

 

6 - Lesões

 

Essa foi a primeira Copa do Mundo disputada no meio da temporada europeia, no fim do ano, o que fez com que o calendário do futebol mundial fosse espremido e que as seleções tivessem pouco tempo de preparação antes do início do torneio.

O que se viu como consequência disso - e também fruto do acaso - foi uma série de lesões de jogadores. Muitas delas aconteceram antes do torneio, como nos casos dos franceses Kanté, Kimpembe, Pogba e Benzema, do brasileiro Philippe Coutinho, do senegalês Mané, do argentino Lo Celso, entre outros.

Depois que a bola rolou no Catar, outros tantos incidentes médicos ocorreram. Só o Brasil teve dois cortes, do lateral Alex Telles e do atacante Gabriel Jesus, por lesões nos joelhos. Neymar, Danilo e Alex Sandro também se machucaram e perderam jogos.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, nos nove primeiros jogos foram 11 substituições por lesões.

 

Neymar sofreu lesão no tornozelo direito na estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo 2022 — Foto: AFP

Neymar sofreu lesão no tornozelo direito na estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo 2022 — Foto: AFP

 

7 - Faltou ensaio?

 

As jogadas de bola parada perderam importância nesse Mundial.

Os gols provenientes de escanteios caíram 11% em relação à Copa passada. Já os que saíram após faltas laterais diminuíram em 14%.

Algo ocasional, fruto do menor tempo para ensaio antes e durante o Mundial, ou sinais de um novo tempo no futebol?

 

8 - Tecnologia

 

A Copa de 2022 foi a primeira a utilizar a tecnologia chamada de "impedimento semiautomático". Apresentada ao público logo na estreia, em lance polêmico na partida entre Catar e Equador, ela deu agilidade à tomada de decisões dos árbitros, mas nem por isso fez com que decisões fossem menos contestadas.

As bolas usadas na Copa do Mundo foram dotadas de um sensor, instalado exatamente no centro da esfera. Assim, era possível saber com exatidão em que momento houve contato com o jogador que passava a bola.

Paralelamente, 12 câmeras posicionadas no estádio rastreavam a posição de cada jogador. Se já não bastasse, essas câmeras captavam com precisão 29 possíveis pontos de contato do corpo com a bola, 50 vezes por segundo.

Sempre que havia um jogador impedido, e ele participasse do lance (ao tocar a bola), uma luz se acendia na cabine do VAR. Em vez das habituais linhas traçadas para marcar os impedimentos, a tecnologia gerava uma animação em 3D, que era exibida ao árbitro de vídeo e também ao público no estádio e nas transmissões das partidas.

 

9 - Uma nova forma de jogar?

 

A Copa apresentou times mais compactados, principalmente graças ao avanço das linhas defensivas. Em média, elas foram posicionadas a 37,6 metros da linha de fundo, quase 2m a mais do que na Rússia, há quatro anos.

Com isso, a posse de bola na região do meio-campo cresceu 9% em relação ao último Mundial.

O congestionamento da faixa central do campo também fez com que times atacassem mais pelos lados do campo. Embora tenha havido queda no número de cruzamentos, aumentou o número de gols provenientes desse tipo de jogada, segundo estudo da Fifa.

 

10 - Protagonistas com as mãos e os pés

 

Emiliano Martínez foi eleito o melhor goleiro da Copa, mas outros nomes da posição se destacaram no Catar, como o marroquino Bono, o croata Livakovic e o francês Lloris.

Porém, não foi apenas defendendo pênaltis ou operando milagres debaixo das traves que os goleiros tiveram participação importante nessa Copa. O jogo com os pés tem sido cada vez mais necessário no futebol moderno.

– Os goleiros se transformaram num jogador de linha, que participa efetivamente da construção das jogadas – opinou Jurgen Klinsmann.

Isso tem relação com as pressões exercidas pelos atacantes adversários para tentar roubar a bola e também pelo avanço das linhas defensivas, como apontado no tópico anterior. Um processo que não chega a ser novo, mas que se intensificou na Copa do Catar.