TERÇA-FEIRA, 4 DE ABRIL DE 2023 ÀS 17:20:41
Adolescente apreendido em Araçatuba por incentivar massacres havia sido alvo de outras denúncias

O adolescente de 15 anos que foi apreendido na última quinta-feira (30) em Araçatuba (SP), investigado por incentivar possível massacre em uma escola estadual da cidade, já havia sido alvo de denúncias anteriores.

 

De acordo com o que foi apurado pela reportagem, a Polícia Civil representou pelo mandado de busca e apreensão para a casa dele após receber pelo menos três comunicados e uma denúncia anônima de suspeita de ataque em uma escola. Porém, ele já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão em julho do ano passado, quando teve um celular e um notebook apreendidos.

 

Além disso, no dia 15 de março ele foi ouvido na presença da mãe dele e de policiais militares na escola e confirmou que havia feito pesquisas relativas a massacres, sob argumento de que estudaria assassinatos.

 

 

Primeira denúncia

A procurar a polícia no dia 15 de março, a direção da escola informou que desde que o estudante passou a frequentar a instituição, no início deste ano, pelo menos três alunas reclamaram do comportamento dele, que as deixava incomodadas com o jeito que olhava para elas. O investigado teria o hábito de beijar o pescoço das meninas e ficar olhando para os seios dela.

 

A direção da escola também havia sido informada que o estudante frequentava grupos do WhatsApp e acessava sites na internet relacionados a massacres em escolas. Ele inclusive teria postado uma foto em um desses site e relatado a amigos que não teria coragem de praticar um massacre, mas com a ajuda de mais duas ou três pessoas, poderia trancar os portões e para que entrassem atirando.

 

 

Confirmou

Ouvido na frente de policiais militares e na presença da mãe dele, o estudante confirmou as pesquisas sobre informações relativas a massacres, alegou que apenas estudava assassinatos, mas não faria nada na escola.

 

A direção da instituição também ouviu a mãe do menino na ocasião. Ela relatou saber que ele acessava esse tipo de conteúdo, alegou que iria levá-lo ao médico para retomar o tratamento, mas argumentou que o filho recusava fazer uso do medicamento controlado.

 

 

Apreendido

Ao ser apreendido na quinta-feira, o adolescente foi encontrado pelos policiais civis no quarto dele durante o cumprimento do mandado judicial de busca e apreensão. Na ocasião foi apreendido um caderno com desenhos de sinais nazistas feitos por ele e também foi recolhido o celular do investigado, no qual havia várias mensagens de cunho racial.

 

Os policiais estiveram na escola onde o menino estuda e encontraram na carteira dele mais desenhos relacionados ao nazismo. A direção da escola apresentou à polícia o caderno de uso do estudante durante as aulas, no qual havia outros desenhos de sinais nazistas, homofóbicos e raciais.

 

Ao representar pela apreensão do investigado, a polícia levou em consideração que ele demonstrou ser bastante popular entre os colegas de escola, com os quais disseminaria o racismo e a importância de agir contra judeus, negros e homossexuais, além de enaltecer ações de adolescentes em massacres escolares.

 

 

Investigações

As ações contra suposto massacre em escola de Araçatuba foi coordenada pela DIG/Deic (Delegacia de Investigações Gerais da Divisão Especializada de Investigações Gerais) e aconteceram entre quinta e sexta-feira passada e resultou na apreensão de dois adolescentes.

 

Ao todo foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça, tendo como alvos sete adolescentes. Entre eles está uma criança de 11 anos, com a qual foi apreendida uma réplica de uma pistola, e duas adolescentes que manteriam contato com o suposto mentor do massacre.

 

O outro adolescente apreendido tem 14 anos e seria o possível executor do suposto massacre. Com ele foi apreendida uma espingarda de pressão aparentemente adulterada para disparo de munição de calibre 22; duas facas; um canivete; uma luneta para espingarda; duas armas de airsoft realísticas, sendo uma espingarda calibre 12 e uma submetralhadora.

 

Também foi recolhida uma munição de calibre 380 intacta, uma cápsula de 380 e uma cápsula com projétil de munição calibre .50; e um livro escrito em inglês com instruções para fabricação de armas artesanais e explosivos e livros contendo símbolos nazistas.

 

Foi recolhido ainda um pen drive, a CPU do computador e o celular do investigado para serem enviados para perícia por conter várias mensagens sobre o eventual massacre e conteúdo nazista e racista.

 

 

Rede de apoio do município vai acompanhar ações

Hojemais Araçatuba pediu informações à Promotoria da Infância e Juventude sobre as ações que podem ser adotadas diante do que já foi apurado pela Polícia Civil, diante da possibilidade de os investigados realmente estarem planejando um massacre em uma escola da cidade.

 

O promotor de Justiça Joel Furan argumentou que a questão é complexa, envolve inúmeros fatores e não há resolução tão simples. Entretanto, afirma que a Rede de Araçatuba, que envolve todos os órgãos de proteção ao adolescente, está empenhada em auxiliar a escola e pais, sempre buscando a melhor solução possível.

 

“A Promotoria de Justiça da Infância e Juventude informa que os adolescentes responsáveis pelos atos praticados serão julgados conforme a legislação vigente, com direito a ampla defesa”, informa em nota.

 

 

Município

A reportagem também procurou a Prefeitura, já que a mãe do menino relatou que ele faria tratamento psicológico, mas recusava fazer uso da medicação ministrada pelo médico.

 

O município informa que o adolescente não passou por atendimento na Assistência Social e que o Departamento de Assistência Especializada da Secretaria Municipal de Saúde não pode fornecer informações referentes aos atendimentos de crianças e adolescentes no CAPS-i (Centro de Atenção Psicossocial Infantil). 

 

Segundo a administração municipal, já foi realizado contato pela coordenação da Secretaria de Ensino Estadual para apoio e acompanhamento de adolescentes. “Está programada uma reunião em rede, para discussão sobre o fato ocorrido na referida escola” , informa em nota.

 

 

Programa Psicólogos na Educação voltará a ter atendimento presencial

A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Educação para saber quais providências vinham sendo tomadas com relação ao adolescente investigado por incentivar massacres, devido aos indícios de que realmente havia a possibilidade de estar sendo planejado um ataque a alguma escola da cidade. Também foi questionado de que forma a Pasta está colaborando com as autoridades na investigação, que prossegue.

 

A secretaria informou que as escolas da rede estadual estão atentas aos comportamentos dos estudantes, atuando com a escuta ativa e mediação, buscando solucionar os conflitos identificados.

 

Reforçou que em 2019 foi lançado o Conviva SP (Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar), que visa identificar vulnerabilidades de cada unidade escolar para implementar ações proativas de segurança, para que toda escola seja um ambiente de aprendizagem solidário, colaborativo, acolhedor e seguro, na busca da melhoria da aprendizagem. 

 

Atendimento psicológico

Segundo a Pasta, é fundamental o cuidado com a saúde mental dos alunos, por isso, Conviva conta com o programa Psicólogos na Educação, cujo atendimento vinha sendo feito de forma remota desde o início da pandemia. “Para este ano, o formato e as estratégias do programa foram repensados e o atendimento passará a ser presencial”, informa a nota, sem esclarecer a partir de quando isso acontecerá.

 

Por fim, a secretaria informa que periodicamente, a equipe Conviva SP promove encontros formativos junto aos COE (Coordenador de Organização Escolar) para discutir assuntos voltados à promoção da cultura da paz, à valorização da vida e à mediação de conflitos.


Fonte: HojeMais