TERÇA-FEIRA, 10 DE JANEIRO DE 2023 ÀS 08:36:17
Apoiadores de Bolsonaro e opositores de Lula buscam se distanciar de atos golpistas em Brasília

Da esquerda para a direita: a ex-ministra Tereza Cristina, o deputado federal Kim Kataguiri e a deputada estadual Janaína Paschoal, que condenaram atos golpistas em Brasília

Da esquerda para a direita: a ex-ministra Tereza Cristina, o deputado federal Kim Kataguiri e a deputada estadual Janaína Paschoal, que condenaram atos golpistas em Brasília Montagem com fotos de Divulgação

 

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na última eleição e opositores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscaram se distanciar dos atos golpistas deste domingo, em Brasília, que culminaram na invasão às sedes dos três Poderes e foram incentivados por parlamentares bolsonaristas, com participação de políticos do PL. Ex-ministros, como Tereza Cristina (PP-MS) e Damares Alves (Republicanos-DF), e parlamentares que se colocam na oposição ao novo governo, como os deputados federais Kim Kataguiri (União-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) e a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB-SP), se manifestaram em tom de condenação às cenas protagonizadas por bolsonaristas na capital federal.

O ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), senador eleito pelo Rio Grande do Sul, descreveu os atos de vandalismo em contraposição ao que classificou como "valores da direita". "Vandalismo e depredação não se coadunam com os valores da direita, pelo contrário são práticas da ideologia que nos contrapomos. Sempre pela legalidade e por nossos princípios e valores", escreveu Mourão.

Damares, ex-ministra dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro e eleita ao Senado pelo Distrito Federal, afirmou que "invadir e depredar patrimônio público/privado jamais será a solução". Em argumentação semelhante, a ex-ministra da Agricultura e senadora eleita pelo Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina, pediu "equilíbrio e sensatez" e disse que "não há espaço para atos de vandalismo e desrespeito às instituições".

"Nossa discordância com a esquerda é no campo das ideias. Nossa oposição deve ser feita de forma pacífica e por meio de instrumentos previstos na CF (Constituição Federal)", publicou Damares em uma rede social.

O deputado federal Kim Kataguiri, que apoiou Bolsonaro no segundo turno de 2018, mas passou a se manifestar de forma contrária ao então presidente durante o mandato, afirmou que os "atos golpistas que aconteceram ontem (domingo) prejudicam toda a luta de oposição contra o PT". Nas eleições de 2022, Kataguiri sugeriu que anularia seu voto no segundo turno entre Bolsonaro e Lula.

Kataguiri, uma das lideranças do MBL (Movimento Brasil Livre) na organização de manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2015 -- que envolveram cenas de confusão na Esplanada dos Ministérios --, afirmou ainda, em uma rede social, que nem todos que fazem oposição ao PT "têm esse tipo de postura".

Outra apoiadora de Bolsonaro nas eleições de 2018, e que fez sinalizações de afastamento do bolsonarismo desde então, a deputada estadual Janaína Paschoal sugeriu que os atos golpistas em Brasília poderiam "legitimar o discurso de que a direita é extremista". "Não é possível que as sedes dos mais altos poderes da República sejam invadidas com tamanha facilidade! Pelo amor de Deus, se houver mesmo direitistas nessa insanidade, recuem! Vão conseguir o contrário do que dizem procurar! Não tem nenhuma lógica nesse movimento!", escreveu Janaína.

Parlamentares eleitos para a próxima legislatura do Congresso Nacional, que foi o primeiro dos três Poderes a ser invadido e depredado por bolsonaristas golpistas na tarde de domingo, também engrossaram o coro de críticas aos atos em Brasília, frisando seu posicionamento de oposição ao governo Lula. A deputada federal eleita Rosangela Moro (União-SP), mulher do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro Sergio Moro (União-PR), afirmou que "perdeu-se a legitimidade" com as cenas de vandalismo.

"O caminho é debate sério, é construir uma oposição com fundamento na razão e na Lei para garantir avanços em nosso país. O dia de ontem (domingo) entrará como um triste capitulo nos livros de história. Precisamos registrar é que a direita não é arruaceira, algumas pessoas perderam a razão e por seus atos e excessos precisam ser responsabilizadas", disse Rosangela.

Ex-prefeito do Rio e ex-senador, Marcelo Crivella (Republicanos), eleito deputado federal pelo Rio, afirmou que os atos "afastam investimentos do Brasil" e disse que é "mais lamentável ainda se tivermos lá cristãos". Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella recorreu a cenas bíblicas para criticar as cenas de violência.

"Não é dessa maneira que nós vamos construir um Brasil melhor (...). Às vezes as pessoas pensam que ainda existe cajado para abrir o Mar Vermelho e matar afogado o faraó. Não existe mais pedra para jogar na cabeça de Golias. Nós, cristãos, precisamos entender que nas controvérsias da vida precisamos encontrar o caminho pacífico para a solução", declarou Crivella em vídeo.

Assim como Crivella, que fez campanha colado a Bolsonaro ao tentar a reeleição à Prefeitura do Rio em 2020, outro apoiador do ex-presidente, o ex-deputado Eduardo Cunha (PTB), também condenou os atos em Brasília. Cunha, ex-presidente da Câmara e cassado em 2016, disse que "não é possível aceitar" episódios de depredação e violência.

Presidenciáveis que manifestaram oposição a Lula e Bolsonaro na campanha de 2022 também se manifestaram. O candidato do Novo à Presidência, Luiz Felipe D'Ávila, classificou como "ato antidemocrático" as invasões às sedes dos Poderes, e declarou em uma rede social que "a bandeira verde e amarela não pode ser usada para baderna e vandalismo".

O deputado federal Marcel Van Hattem (RS), uma das lideranças do Novo que deu apoio explícito a Bolsonaro no segundo turno em 2022, também buscou dissociar sua atuação em oposição a Lula e com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) dos atos golpistas: "Seguirei sempre atuando em defesa da democracia, do Estado de Direito e das liberdades dentro da Constituição e repudiando quaisquer atos que, a pretexto de serem realizados para defender esses mesmos valores, sejam inconstitucionais ou violentos", publicou Van Hattem em suas redes.


Fonte: O Globo