SEGUNDA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2023 ÀS 15:39:35
Após reunião com ministro de Putin, chanceler critica sanções unilaterais e defende paz negociada entre Rússia e Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu nesta segunda-feira (17) em Brasília o diplomata russo Sergei Lavrov para discutir a guerra na Ucrânia e a relação comercial entre Brasil e Rússia, entre outros assuntos.

O encontro ocorreu no Palácio do Itamaraty, em Brasília, e terminou por volta de 12h30. A visita de Lavrov ao Brasil se dá em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de um ano.

Após a reunião, o ministro Mauro Vieira criticou sanções unilaterais aplicadas contra a Rússia e defendeu a intensificação das negociações pela resolução do conflito, com a participação de países amigos.

"Reforcei a disposição brasileira para contribuir para a solução pacífica para o conflito, recordando as manifestações do presidente Lula no sentido de buscar facilitar a formação de um grupo de países amigos para mediar as negociações entre Rússia e Ucrânia. Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo negociado, com respeito aos direitos humanitários e uma solução negociada com vistas à paz duradoura", disse Vieira.

"Reiterei a posição brasileira sobre a aplicação de sanções unilaterais. Tais medidas, além de não contarem com a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, têm impacto negativo sobre economias em todo mundo, em especial os países em desenvolvimento", continuou o chanceler.

Já o ministro russo Sergei Lavrov agradeceu pela contribuição do Brasil na solução do conflito.

"Estamos agradecendo pela contribuição em busca da solução desse conflito, desse problema. Estamos levando em consideração e precisamos resolver de forma duradoura. Isto é muito importante vai ser levado em consideração a relação bilateral", afirmou.

 

Declarações de Lula

 

O presidente Lula tem defendido um acordo de paz entre os dois países. Em março, Lula conversou por videoconferência com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e defendeu a criação de um "clube da paz", formado por países que poderiam mediar o fim do conflito.

Declarações recentes de Lula sobre o assunto, no entanto, geraram reação do governo dos Estados Unidos.

No último fim de semana, por exemplo, Lula disse que os Estados Unidos e países da Europa têm adotado medidas que, na avaliação do presidente, acabam prolongando a guerra.

A aproximação de Lula à China e à Rússia também tem gerado insatisfação nos norte-americanos. O petista voltou neste domingo (16) de viagem ao país asiático, onde se encontrou com o presidente Xi Jinping.

Nesta segunda, Lula também se encontrará com ministro das Relações Exteriores russo.

O colunista do g1 Valdo Cruz informou que, na opinião de diplomatas americanos, Lula se esqueceu do apoio dos EUA à democracia no Brasil e à própria eleição do petista na disputa com Jair Bolsonaro.

 

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, desembarca em Brasília para encontros com Mauro Vieira e Lula — Foto: Divulgação/Governo da Rússia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, desembarca em Brasília para encontros com Mauro Vieira e Lula — Foto: Divulgação/Governo da Rússia

 

Ucrânia não cederá 'um centímetro'

 

No último dia 7, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, afirmou que o país agradece os "esforços" de Lula para tentar pôr fim à guerra na região, mas acrescentou que o país não cederá "um centímetro" de terra à Rússia.

A publicação, em uma rede social, aconteceu um dia após Lula ter afirmado que o presidente russo Vladimir Putin "não pode ficar com o terreno" invadido na Ucrânia.

No entanto, o petista acrescentou que "talvez nem se discuta a Crimeia", uma das regiões ucranianas invadidas pelos russos. A anexação da Crimeia pela Rússia aconteceu em 2014.

 

 

 

Paz não vem 'a qualquer custo'

 

Em fevereiro deste ano, quando a guerra completou um ano, o representante da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, disse que o país não aceitará a paz na região "a qualquer custo".

Segundo Tkach, um eventual acordo com a Rússia depende da saída das tropas de Vladimir Putin dos territórios ucranianos.

"A Ucrânia está se defendendo no seu próprio território, defendendo seus cidadãos. A Ucrânia deixou claro que não aceitará a paz a qualquer custo. Não vamos concordar com nada que mantenha os territórios ucranianos ocupados e coloque nosso povo em dependência da vontade do agressor" declarou Tkach na ocasião.

"Apaziguar com o agressor levaria a mais atrocidades. Precisamos de mais equipamentos, militares e munições", completou.

 

 

Relação comercial Brasil-Rússia

 

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Brasil e Rússia passaram a ter relação em nível "estratégico" em 2000.

Desde então, os países têm buscado ampliar o comércio e a parceria em diversas áreas.

Os países integram, por exemplo:

 

  • o Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul);
  • o G20 (20 maiores economias do mundo).

 

Ao todo, no ano passado, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil exportou para a Rússia o equivalente a US$ 1,9 bilhão e importou o equivalente a US$ 7,8 bilhões.

Os principais produtos exportados para a Rússia foram:

 

  • Soja (45%);
  • Açúcares e melaços (15%);
  • Carne bovina (8,3%);
  • Café não torrado (6,6%);
  • Amendoim (5,6%).

 

E os principais produtos importados da Rússia foram:

 

  • Adubos ou fertilizantes químicos (71%);
  • Óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (14%);
  • Carvão (7,6%)
  • Demais produtos - Indústria de transformação (4,3%);
  • Trigo e centeio (1,3%).

 

 

Protesto

 

Durante a reunião de Lavrov com Mauro Vieira, três mulheres protestaram, em frente ao Ministério das Relações Exteriores, contra "acordos imperialistas" entre Brasil e Rússia.

As manifestantes chegaram ao local por volta de 12h20. Seguranças do Itamaraty pediram a elas que se retirassem da frente do prédio.


Fonte: G1