Imagem de câmera de segurança mostra empresário discutindo com mulher instantes antes de agressão — Foto: Reprodução/TV Globo

O prazo de dez dias que a Justiça de São Paulo deu para Thiago Brennand Fernandes Vieira, 42 anos, acusado de agredir uma modelo após discussão numa academia, em agosto, voltar ao Brasil e entregar seu passaporte termina nesta sexta-feira (23), A informação foi confirmada à reportagem pelo Tribunal de Justiça (TJ), por meio de sua assessoria de imprensa.

O caso foi revelado no mês passado pelo Fantástico, que mostrou o vídeo das agressões, gravado por câmera de segurança, e entrevistou a aluna agredida, Helena Gomes, de 37 anos (veja vídeo abaixo).

"Thiago Brennand tem até hoje (23) para se apresentar à justiça", informa nota divulgada ao g1 pela comunicação do TJ.

Caso Thiago não retorne ao país e entregue seu passaporte, o Ministério Público (MP) poderá pedir à Justiça a prisão preventiva dele. Até a última atualização desta reportagem o g1 não conseguiu contato com a defesa do empresário para confirmar a informação se ele voltou ao país ou se continuava em Dubai, nos Emirados Árabes.

Após a repercussão do caso, Thiago foi expulso da academia Bodytech e deixou São Paulo no dia 3 de setembro e viajou de avião para os Emirados Árabes. À época, a defesa dele alegou que seu cliente retornaria ao Brasil em 18 de outubro.

A viagem ocorreu antes de a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público e tornar o empresário réu pelos crimes de lesão corporal e corrupção de menores. A Promotoria o acusa de agredir a modelo de e incentivar o filho dele, menor de 18 anos de idade, a ofendê-la.

Defesa da vítima

O advogado Marcio Janjacomo, que defende Helena, chegou a dizer na manhã desta sexta ao g1 e à TV Globo que o prazo para Thiago seria neste sábado (24). Segundo ele, como os fóruns estarão fechados ao público neste final de semana, o empresário ainda pode se apresentar na segunda-feira (26).

"Ficou determinado na denúncia que foi publicada por todos os meios de imprensa, os advogados tomaram conhecimento, o prazo serão dez dias do momento da publicação. Então pra todo efeito, o prazo termina agora sábado, dia 24, amanhã. Então aguardamos segunda-feira as novas informações", respondeu Janjacomo ao g1 ao ser questionado sobre qual é o prazo da data limite para o empresário retornar ao Brasil.

A Justiça paulista obrigou Thiago a retornar a São Paulo num período de dez dias. De acordo com decisão da Justiça do dia 13 de setembro, publicada em 14 de setembro, caso Thiago não volte ao Brasil e entregue seu passaporte no período determinado, ele correrá o risco de ser preso preventivamente. O empresário ainda foi proibido de frequentar academias e de se aproximar de testemunhas. Ele ainda não foi interrogado.

"Fica o acusado advertido de que o descumprimento de quaisquer das medidas cautelares impostas poderá ensejar a decretação de sua prisão preventiva", informa trecho da decisão judicial.

Se a Promotoria pedir a prisão dele a Justiça decretar, e o empresário não se entregar, ele passaria a ser considerado foragido.

Defesa x acusação

Thiago Brennand Fernandes Vieira sem camisa e ao telefone em imagem publicada em rede social — Foto: Reprodução/TV Globo

O g1 não conseguiu localizar a defesa de Thiago para comentar o assunto nesta sexta. A reportagem apurou que os advogados do empresário chegaram a contestar a decisão que determinou a volta de Thiago ao Brasil, mas a Justiça manteve a determinação. Desde o início da repercussão do caso, a defesa de Thiago tem negado as acusações de que agrediu Helena dentro da academia e que incitou seu filho a xingar a aluna.

Em entrevista ao Fantástico, Thiago alegou que fez "uso comedido da força" quando puxou os cabelos da aluna.

"O vídeo com a Helena, que é uma coisa onde você vê um camarada como eu fazendo uso comedido da força. Não há um tapa, não há uma lesão. A mulher não sofreu uma lesão. Colocaram uma foto de um chumaço de cabelo, uma pantomima. Um chumaço de cabelo. É evidente que o empurrão gerou nada. O que houve ali foi uma contenção e uma resposta certeira. E faria absolutamente tudo de novo", havia dito o empresário ao programa da TV Globo.

Mas, de acordo com a Justiça, Helena passou a ser perseguida por Thiago depois que ele pediu o número do telefone dela na academia e a convidou para sair para jantar. Como ela não aceitou, o empresário a destratou e a agrediu.

“Neste momento, ele me deu um empurrão. Além dele empurrar daquela forma, ele foi falando vários palavrões”, contou a modelo também em entrevista ao Fantástico. “Ele falou: ‘Vou cuspir em você porque você merece’. E cuspiu em mim”.

Durante as investigações, a Polícia Civil apreendeu acessórios para armas de Thiago dentro de uma mala num armário dele que fica no Centro Equestre do Condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (veja imagem ao final desta reportagem). Uma perícia irá apontar se os equipamentos estão legalizados. Logo após a operação, o Exército suspendeu o certificado de registro de CAC (sigla para colecionador de armas, atirador e caçador desportivo), que permitia a Thiago ser colecionador de armas.

Na semana passada, duas advogadas que defendiam Thiago deixaram o caso sem dar explicações após mais denúncias contra o empresário virem à tona pela imprensa.

Mais 10 vítimas

O Ministério Público de São Paulo começará a ouvir a partir da próxima segunda-feira (26) as dez novas mulheres que acusam Thiago de estuprá-las. Duas delas ainda alegam que o empresário as obrigou a tatuarem as inicias dele, TFV, em seus corpos.

Os depoimentos serão feitos pelo Núcleo de Atendimento à Vítima de Violência (NAVV) do MP.

A reportagem apurou que a primeira vítima a ser ouvida pelo NAVV do MP na segunda será uma mulher que o Fantástico entrevistou em reportagem exibida no dia 5 de setembro. Ao programa, ela contou que Thiago a manteve em cárcere privado, a agrediu, e divulgou um vídeo íntimo dela sem o seu consentimento, além de forçá-la a fazer a tatuagem com as letras do nome do empresário.

O depoimento dela será feito por videoconferência. No caso dessa mulher, serão apurados os crimes de estupro, cárcere, lesão e ameaça. O Ministério Público ainda vai marcar as datas para ouvir as demais mulheres. Alguns dos depoimentos poderão ser presenciais também. Todas as vítimas serão ouvidas exclusivamente pelo NAVV, na cidade de São Paulo.

Os casos acima teriam ocorrido entre 2021 e este ano em Porto Feliz, no interior paulista, onde o empresário tem residência num condomínio de alto padrão. Entre as vítimas, estão mulheres que o conheceram pelas redes sociais ou pessoalmente e tiveram algum contato ou relacionamento com ele.

As denúncias foram encaminhadas à Promotoria na capital paulista e ao MP em Porto Feliz pelos advogados das mulheres.