
Não há monarquia que se perpetue sem uma família real, e os parentes de Charles III foram parte central de sua coroação. Da fofura de George, Charlotte e Louis — o futuro da instituição — à brevíssima aparição de Harry, o príncipe rebelde, a cerimônia de ontem rendeu momentos para os britânicos e seus tabloides dissecarem por semanas.
Por semanas especulou-se se o caçula do soberano sequer iria à cerimônia, já que trava um imbróglio com os parentes desde que abandonou suas funções reais, acusou os parentes de racismo e se mudou para a Califórnia. Mas Harry fez uma aparição solo e relâmpago: pousou na sexta e, assim que os rituais terminaram, foi para o aeroporto de Heathrow.
Príncipe Louis, príncipe George e princesa Charlotte em carruagem após coroação do avô, o rei Charles III — Foto: Oli Scarff/AFP
A pressa, noticiou a imprensa local, era para conseguir chegar em casa a tempo de cantar parabéns para seu filho Archie, que completou 4 anos ontem. Harry ainda é pai de Lilibet, de 1 ano, e a pouca idade das crianças foi citada como motivo para que sua mulher, Meghan, permanecesse nos Estados Unidos ao lado dos filhos. Justificativa válida, mas que não colou por completo.
Os atritos de Harry e Meghan com os parentes transformaram-se em guerra aberta no início do ano, quando o príncipe lançou sua autobiografia — e fez uma turnê midiática para promovê-la — narrando a má relação com seu irmão e retratando seu pai como emocionalmente distante. Ontem foi a primeira vez que esteve e m um evento familiar desde a escalada da crise, e parece não ter interagido com seus parentes mais próximos.
William, primeiro na linha de sucessão, teve papel de destaque na cerimônia, enquanto a Harry coube a terceira fileira, ao lado dos primos. Leituras labiais indicaram que o dissidente foi cortês, mas passou a maior parte do tempo de semblante fechado, gerando comentários on-line: alguns disseram que ele que preferiria estar em outro lugar. Outros, que se arrependia da rixa.
Príncipe Harry senta-se na terceira fila da Abadia de Westminster — Foto: Reprodução
Chegou a ser noticiado que o nome do caçula teria sido convidado de última hora para o almoço pós-coroação, algo retratado pela imprensa realista como uma bandeira branca do rei. Os detalhes, contudo, apontam para o sentido contrário. Se seu irmão, tios e tias vestiam pomposas capas, o príncipe trajava um terno.
A justificativa de que a exclusão deveu-se exclusivamente ao fato de Harry ter deixado de trabalhar para a Firma, como a instituição monárquica é chamada, não foi suficiente. O privilégio não foi retirado do príncipe Andrew, um dos três irmãos de Charles, que tal qual o sobrinho perdeu seus títulos — em seu caso, após ser acusado de abusar sexualmente de uma mulher à época com 17 anos. Ele firmou um acordo para evitar ir a julgamento.
Nenhum dos dois teve papel oficial na coroação ou apareceu na histórica foto na sacada do Palácio de Buckingham, reservada para os parentes que dedicam à vida a trabalhar para a Coroa. A restrição faz parte de uma tentativa no novo monarca de enxugar as operações e conter críticas aos gastos de uma instituição por vezes anacrônica.
A ideia de uma Coroa moderna comandada por um soberano de 74 anos, o mais velho a ser entronizado, é quase dissonante. A tendência é que William e Catherine assumam mais protagonismo como os rostos da nova geração, mas a equação deve ser precisa para que a era carlotina não seja um interregno entra a popular rainha Elizabeth II e o também adorado William.
O futuro da realeza
A família de “comercial de margarina” do primogênito do rei é um trunfo para a monarquia britânica em sua missão de se manter inabalável em um mundo no qual o direito divino ao poder cai cada vez mais em desuso. A fofura dos trio de crianças, mais uma vez, teve protagonismo na celebração de ontem.
O príncipe George, de 9 anos, foi pajem do avô, um preparativo para quando for sua vez de ascender ao trono. Já Charlotte, de 8 anos, e Louis, de 5 anos, entraram de mãos dadas em procissão ao lado dos pais. A menina chamou atenção na Abadia por acompanhar os cânticos e orações com seu próprio livro. A incógnita era se seu levado irmão caçula iria se comportar, após suas caras e bocas roubarem a cena durante o Jubileu de Prata de sua bisavó em 2022.
Após alguns bocejos durante a primeira parte da cerimônia de duas horas, o pequeno foi levado para descansar nos bastidores. Na sacada de Buckingham, contudo, as graças do menino voltaram a encantar os súditos: ele apontava efusivamente para a multidão e os caças que fizeram uma demonstração aérea, divertindo seus pais e sua irmã.
Fonte: O Globo