QUINTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO DE 2023 ÀS 08:24:04
Garimpeiros fogem da Terra Yanomami em jangada e se alimentam de farinha

Em uma pequena jangada improvisada e lotada, cerca de 10 garimpeiros ilegais em fuga se alimentam de farinha de mandioca enquanto navegam pelo rio Mucajaí para sair da Terra Indígena Yanomami. Um vídeo gravado pelos próprios tripulantes da embarcação mostra um momento de descontração, enquanto os garimpeiros fazem piada com a alimentação.

"E aí, galera. Aqui nós estamos na jangada, descendo o rio. Olha o nosso almoço [saco de farinha]. Olha. O conterrâneo aqui só no almocinho dele de boa. Olha os meninos. Os pilotos aí. Isso aqui que é o chefe da jangada, ele que coordena. É isso aí galera. Estamos descendo o rio Mucajaí. Bacana, hein?", diz o garimpeiro que filma o trajeto.

Os garimpeiros que exploram minérios na Terra Indígena Yanomami fogem do território desde o início de ações de repressão à atividade clandestina. Nesta quarta-feira (8), a força-tarefa do governo federal destruiu um avião, um trator de esteira e estruturas usadas na logística do garimpo.

O rio Mucajaí é uma das rotas fluviais usadas para chegar ao garimpo, em destino à Boa Vista. Para se ter uma ideia, de Surucucu, região de referência no território, até Boa Vista são ao menos 280 km — o que dá cerca de 1h30 de voo. De barco, o trajeto pode durar de 8 a 10 dias.

No vídeo é possível ver a coloração barrenta do rio, resultado da extração de minério ilegal dos garimpeiros invasores no território Yanomami. Com o rio contaminado, não há peixes para pescar. Eles também enfrentam uma forte correnteza.

A estimativa é que ao menos 20 mil garimpeiros estejam na Terra Indígena Yanomami. A ação ilegal deles causou uma crise humanitária sem precedentes no território.

São pouco mais de 30 mil Yanomami na área que deveria, por lei, ser preservada. No entanto, o território tem sofrido com o avanço do garimpo ilegal, que só em 2022 cresceu 54%.

Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, a Polícia Federal prometeu retirar todos os garimpeiros ilegais que exploram minérios dentro da Terra Indígena Yanomami. A operação contra os invasores foi deflagrada nessa terça-feira (7), numa força-tarefa do governo federal.

A PF disse que a intenção da operação é identificar todas as pessoas que forem abordadas, assim como ocorreu nos ataques terroristas de 8 de janeiro.

 

Garimpeiro come farinha em jangada durante fuga da Terra Yanomami — Foto: Reprodução/Redes sociais

Garimpeiro come farinha em jangada durante fuga da Terra Yanomami — Foto: Reprodução/Redes sociais

 

Fuga dos garimpeiros

 

A ofensiva contra os garimpeiros ilegais, responsáveis pela crise humanitária sem precedentes dentro do território Yanomami, iniciou com o fechamento do espaço aéreo pela Força Aérea Brasileira (FAB). No entanto, a FAB anunciou a criação de três corredores aéreos para a saída voluntária dos invasores.

Com o espaço aéreo liberado, os garimpeiros chegaram até a reclamar do preço dos voos clandestinos e bloquearam uma pista de pouso ilegal para impedir que aeronaves clandestinas pousem.

Os garimpeiros comentam que atualmente os voos clandestinos custam R$ 15 mil por pessoa — antes, custavam R$ 11 mil

Vídeos que circulam nas redes sociais desde a última quinta-feira (31) mostram homens e mulheres em grupos deixando a região caminhando pela floresta e pelos rios, em barcos lotados.

Em outro vídeo, garimpeiros afirmam estar sem comida e pedem ao Exército e à polícia para serem resgatados da Terra Yanomami.

O local é abastecido por aeronaves, mas com o bloqueio aéreo, o "rancho" — como chamam a alimentação — não chega até as áreas de garimpo onde os criminosos estão instalados.

 

Crise Yanomami

 

Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na região.

A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.

A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e, inicialmente, por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.

As ações de desintrusão devem ser coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que no último dia 30 publicou a criação de um grupo de trabalho para elaborar, em 60 dias, medidas de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas.


Fonte: G1