DOMINGO, 30 DE ABRIL DE 2023 ÀS 13:28:41
Guardas municipais questionam procedimento que resultou em demissões

Desde que o Hojemais Araçatuba publicou matéria na segunda-feira (24) informando sobre as demissões de quatro guardas municipais por agressões a um grupo de presos em saída temporária na rodoviária de Araçatuba (SP), a reportagem tem recebido questionamentos sobre a condução do procedimento que resultou nas punições.

Na sexta-feira (28) a rádio Cultura FM divulgou as imagens da abordagem, gravadas por uma câmera de monitoramento instalada no terminal rodoviário. Inicialmente foi informado que o caso teria ocorrido em outubro, mas depois da divulgação das imagens foi confirmado que a ação aconteceu na madrugada de 2 de julho do ano passado.

Também na sexta-feira a reportagem recebeu mensagem de um dos guardas demitido, informando que a ordem para que comparecessem à rodoviária naquela madrugada foi expedida pelo comando de plantão, que teria ficado a todo momento dentro da sala de monitoramento, assistindo toda ação, mas ele não teria sido punido.

 

Investigado

 

Ainda segundo o que foi informado, esse mesmo comandante responderia a um procedimento interno por ter agredido um adolescente, teria sido reconhecido pela vítima, haveria um boletim de ocorrência registrado, mas não teria ocorrido punição por parte da administração municipal.

Também é questionado o fato de o guarda municipal que concordou em pagar o valor de um salário mínimo por ter agredido um suspeito de furto dentro da delegacia, no ano passado, não ter sido demitido, apesar de haver imagens da agressão.

Hojemais Araçatuba publicou matéria sobre o caso nesta semana. “São dois pesos e duas medidas, tudo isso aceito pela administração municipal”, argumenta um dos guardas demitido.

 

Assume o erro

 

Ele reconhece que houve excesso por parte dos guardas que atuaram na abordagem ocorrida na rodoviária, mas argumenta que o tratamento deveria ter sido igual parar todos.

“Daqueles que estão nas imagens, apenas quatro foram demitidos. A questão foi que um que deu um tapa pegou 20 dias de suspensão, o outro deu dois tapas foi demitido. Então a administração apoia quem dá um tapa e quem dá dois tapas não?”, questiona.

Abordagem teria sido feita após ameaça a mulher

Segundo o que foi informado ao Hojemais Araçatuba por um dos guardas municipais demitido pela administração municipal, a abordagem ao grupo de presos na rodoviária teria ocorrido após pedido de ajuda de uma mulher.

Ela estaria de carro, teria dado sinal de luz e pedindo ajuda porque alguns homens “de camisa clara e calça bege” teriam tentado abrir a porta do carro dela, enquanto aguardava no semáforo da avenida Brasília, ao lado terminal rodoviário, após recusar dar dinheiro a eles.

“A guarnição viu e foi em direção dos mesmos, que estavam na rodoviária bebendo aproximadamente às 4h10 e não poderiam estar ali, pois a saidinha não permite esse horário”, argumenta.

Ainda de acordo com o que foi informado, os abordados responderam que haviam sido retirados de um ônibus por estar fazendo o uso de maconha dentro do veículo.

 

Ameaças

 

Durante a busca pessoal e coleta de dados eles teriam passado a fazer ameaças, dizendo que pertenceriam a uma facção criminosa e que os guardas não sabiam com quem estavam lidando.

Também teriam passado a olhar para as mãos dos guardas, notado a presença de aliança e a dizer que sabiam que tinham família, fazendo ameaças às esposas. “As câmeras não possuem áudio, porém a administração não deu ouvidos para os concursados”, comenta.

Ainda de acordo com o que foi informado, entre os abordados haveria condenado por latrocínio, que é o roubo seguido de morte; por roubo a mão armada e roubo a banco. “Será que a guarda não evitou o pior no dia? A rodoviária estava cheia de mulheres e crianças esperando o ônibus das 5h30”, argumenta.

Por fim, o guarda demitido alega que nenhum dos abordados denunciou o trabalho da guarda e nem quis fazer corpo de delito. “A única entidade que foi contra a guarda foi a Prefeitura. Os GCMs envolvidos são de ótimas condutas, muitos já salvaram vidas!”, finaliza.

Prefeitura afirma que tomou todas as providências cabíveis no caso

Após receber os questionamentos, o Hojemais Araçatuba procurou a Prefeitura de Araçatuba, que afirmou que foram tomadas todas as medidas cabíveis ao caso. “Assim que tomou ciência do acontecido foi instaurado PAD (Processo Administrativo Disciplinar) para verificar a conduta funcional de cada um, oportunizando a todos o pleno direito de defesa”, informa.

Com relação à informação de que o comando da guarda naquela madrugada estaria acompanhando a ação pelas câmeras e não teria sido punido por suposta agressão a um adolescente, a administração municipal informa que havendo provas das acusações, elas devem ser formalmente entregues à Corregedoria, para que posteriormente, sejam analisadas e tomadas as medidas cabíveis.

 

Ação

 

A Prefeitura reforça que os fatos que resultaram nas demissões ocorreram a partir das 4h30 da madrugada de 2 de julho de 2022, durante abordagem de seis pessoas na rodoviária de Araçatuba. A ação durou mais de uma hora, contou com a presença de nove guardas municipais e toda ação foi gravada pelo sistema de videomonitoramento da Prefeitura.

As imagens mostram a abordagem ter início com apenas alguns guardas, mas depois de algum tempo chega uma viatura e outros se juntam ao primeiro grupo.

“A Administração Municipal tomou conhecimento das imagens, apurou formalmente fatos e ao final enviou cópia dessa apuração ao Ministério Público do Estado de São Paulo. Depois disso foram instaurados nove PAD (Processos Administrativos Disciplinares) para verificar a conduta funcional de cada um dos nove guardas municipais envolvidos na abordagem”, informa.

 

Defesa

 

A administração municipal argumenta que durante a instrução os nove guardas municipais tiveram pleno direito de defesa, inclusive por meio de advogado constituído, além de apresentarem recursos.

“Ao final foram aplicadas as penalidades administrativas cabíveis a cada servidor, na medida da respectiva culpabilidade, sendo cinco demissões (quatro já efetivadas), três suspensões (duas de quatro dias e uma de 20 dias) e uma repreensão", informa. 

Um guarda ainda recorre da demissão e, segundo a Prefeitura, já foram exauridas todas as medidas cabíveis no âmbito municipal.


Fonte: HojeMais