Alvo de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal, suspeito de integrar um esquema de agiotagem, Eduardo Rodrigues Silva ostentava uma vida de luxo nas redes sociais e aparecia em fotos ao lado de astros do futebol, como os brasileiros Neymar — intimado a depor como testemunha no caso —, Daniel Alves e o francês Kylian Mbappé.
Além do esquema de empréstimo ilegal de dinheiro, Eduardo também é investigado por receptação de joias e pedras preciosas e lavagem de dinheiro (veja detalhes abaixo). Ele está foragido. Outras três pessoas foram presas na manhã desta sexta-feira (27), por participação no esquema. Os nomes não foram divulgados.
O g1 não tinha conseguido contato com a defesa do jogador e dos envolvidos até a última atualização desta reportagem.
Vida de ostentação
Eduardo, alvo de operação no DF, ao lado dos jogadores Mbappé e Daniel Alves — Foto: Instagram/Reprodução
Nas redes sociais, Eduardo postou fotos no aniversário de Neymar, em Paris, em 2019. À época, a imprensa informou que as despesas dos convidados brasileiros para participar do evento foram custeadas por patrocinadores do jogador, de acordo com a Polícia Civil.
Na festa, o alvo da operação tirou fotos com os cantores sertanejo Wesley Safadão e Felipe Araújo, além do francês Kylian Mbappé, companheiro de Neymar no PSG.
Alvo de operação no DF, Eduardo aparece ao lado dos cantores Felipe Araújo e Wesley Safadão — Foto: Instagram/Reprodução
O investigado também aparece ao lado de Joclécio Amancio dos Santos, mais conhecido como Jota Amancio, melhor amigo e assessor de Neymar. As mesmas fotos foram repostadas por Jota nas redes sociais.
Em 2018, Eduardo postou fotos jogando poker com Neymar e em uma festa com o jogador. Ele também divulgava a entrega de joias ao brasileiro. "Mais uma joia feita com muito carinho para o gênio da bola. Obrigado pela atenção e confiança no trabalho", disse o investigado em uma das ocasiões.
Joia feita para o jogador Neymar por alvo de operação no DF — Foto: Instagram/Reprodução
Investigação
A Polícia Civil do DF deflagrou, nesta sexta-feira, uma operação para investigar o grupo suspeito de agiotagem, receptação de joias e pedras preciosas e lavagem de dinheiro.
Agentes cumpriram mandados de busca em uma joalheria de Taguatinga, em um cassino de pôquer em Águas Claras e em uma marina da Asa Norte. Segundo as investigações, o grupo movimentou R$ 16 milhões, entre 2019 e 2021.
A Polícia Civil afirma ainda que os suspeitos faziam empréstimos a juros superiores aos permitidos legalmente e cobravam os valores mediante ameaças. Nas cobranças, o grupo também exigia transferência e entrega de veículos como garantia, de acordo com a corporação.
Polícia Civil do DF apreendeu lancha em caso que Neymar deve prestar depoimento como testemunha — Foto: PCDF/Reprodução
Os alvos da operação são donos de um cassino de pôquer em Águas Claras, onde também ocorriam os esquemas de agiotagem, principalmente entre os jogadores que se endividavam durante as partidas.
Segundo a polícia, a lavagem de dinheiro da agiotagem e da receptação das joias e pedras preciosas roubadas acontecia por meio de contas bancárias de seis empresas de fachada, em Brasília e em Goiânia. Um "laranja" também foi preso.
A Justiça determinou ainda a apreensão de dois veículos de luxo e uma lancha avaliada em R$ 2 milhões, além de R$ 16 milhões de cinco contas dos investigados.
Segundo a Polícia Civil, um dos presos já se envolveu em crimes como extorsão, receptação, furto e homicídio. Outro alvo, que está cumprindo prisão domiciliar, é considerado foragido pela corporação.
Depoimento de Neymar
Neymar com alvo de operação da Polícia Civil do DF — Foto: Rede social/Reprodução
Neymar foi intimado a prestar depoimento no caso porque, de acordo com a Polícia Civil, recebeu duas joias de Eduardo Rodrigues Silva. Ele deve ser ouvido como testemunha, e não como investigado.
Segundo a corporação, há indícios de que as joias tenham origem ilícita e, por isso, os investigadores querem esclarecer a relação do jogador com os envolvidos.
"Considerando a indicação robusta de que as joias comercializadas por Eduardo são de origem criminosa, a DRF1/PCDF entendeu que é necessária a colheita da versão do jogador Neymar, na condição de testemunha, a fim de que esclareça, entre outras circunstâncias, se houve efetivo pagamento da corrente e anel de diamantes e se tinha conhecimento do envolvimento do investigado Eduardo com a prática de crimes de agiotagem, extorsão, receptação e lavagem de capitais", afirma um relatório da polícia.
Em entrevista coletiva, o delegado Fernando Cocito afirmou que, entre as informações a serem apuradas, está a veracidade de uma nota fiscal em que o nome de Neymar aparece.
"Precisamos ouvi-lo na condição de testemunha para que saibamos: primeiro, se ele realmente recebeu essas joias. Se elas estão com ele, quais os valores pagos pelas pedras preciosas ou joias. E o que é principal: se são verdadeiros ou não os dados constantes em uma nota fiscal onde ele aparece como adquirente dessas joias de um valor expressivo de 106 mil reais", disse.
"E precisamos questioná-lo também, na condição de testemunha, se ele conhecia ou não o passado desse principal alvo que já foi preso por extorsão aqui em Brasília", continuou.
Fonte: G1