QUINTA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2022 ÀS 07:58:57
Ucrânia relata ataque 'maciço' de mísseis e drones russos

Área em Kiev após chegada de mísseis russos, segundo as autoridades ucranianas

Área em Kiev após chegada de mísseis russos, segundo as autoridades ucranianas Gabinete do Presidente da Ucrânia

 

Após uma série de reveses militares e perdas territoriais nos últimos meses, a Rússia realizou nesta quinta-feira um de seus ataques aéreos mais intensos desde que começou sua invasão na Ucrânia em 24 de fevereiro. O governo de Vladimir Putin usou drones e mísseis para atacar a infraestrutura de energia ucraniana, com relatos de explosões nas principais cidades do país, como Lviv e Kiev, onde 40% da população está sem acesso à eletricidade em pleno inverno.

O Comando da Força Aérea da Ucrânia disse no Facebook que Moscou lançou mísseis de cruzeiro de navios e bombardeiros estratégicos, contra pontos tão distantes entre si do território como Kharkiv, no Leste, Odessa, no Sul, e Sumy, no Norte. As sirenes soaram por volta de 5h30 da manhã (0h30 no Brasil) em boa parte da Ucrânia, e o Comando Militar do Sul ucraniano alertou que dois navios russos no Mar Negro davam sinais de estarem perto de disparar.

"29 de dezembro. Ataque maciço de mísseis (...) O inimigo ataca a Ucrânia de várias direções com mísseis aéreos e marítimos de aviões e navios", postou a Força Aérea sobre o episódio que deixou ao menos quatro feridos.

Em seu Twitter, Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky disse que mais de 120 mísseis foram usados no assalto mais recente, o décimo do tipo desde que o Kremlin começou a mirar infraestruturas energéticas em setembro. O chefe das Forças Armadas, Valery Zaluzhny, contudo, disse mais tarde que foram lançados 69 mísseis, e 54 deles foram interceptados.

O ataque ocorreu no mesmo dia em que o chanceler russo, Sergei Lavrov, descartou a "fórmula da paz" apresentada pela Ucrânia como uma base para negociações que ponham um fim à guerra, plano que incluiu dez pontos como a retirada de todas as tropas e a devolução dos territórios anexados. Moscou, por sua vez, insiste que não abrirá mão dos quatro territórios — Zaporíjia, Kherson, no Sul, e Luhansk e Donestk, no Leste — que incorporou unilateralmente após contestados referendos em setembro.

À agência estatal de notícia RIA, Lavrov disse que as esperanças ucranianas de expulsar a Rússia do Leste da Ucrânia e da Península da Crimeia, anexada em 2014, são uma "ilusão". Paralelamente, o porta-voz da Chancelaria, Dmitry Peskov, afirmou que as demandas de Kiev "não levam em conta a realidade atual do território russo, com a entrada das quatro regiões".

Moscou ainda não se pronunciou sobre os ataques aéreos desta quinta, mas a Força Aérea ucraniana disse nas redes sociais que os drones kamikaze que o Kremlin comprou do Irã foram usados na primeira leva do ataque, aparentemente para confundir os sistemas de defesa antes do ataque de mísseis. Eles têm a capacidade de esperar ao redor do alvo até que recebam a instrução para mergulhar e explodirem no impacto.

De acordo com o país de Zelensky, apenas em Kharkov, a segunda maior cidade do país, 13 drones iranianos Shahed-1356 foram lançados contra a infraestrutura energética, e 11 foram interceptados.

Em Kiev, foram ouvidas sete ou oito explosões, incluindo uma que estraçalhou janelas e fez alarmes de carros disparar no centro da capital, mas os detalhes não estão claros. Também não se sabe se os barulhos foram resultados de ataques bem-sucedidos ou de mísseis interceptados pelo sistema de defesa antiaérea.

Em uma postagem no Telegram, a prefeitura de Kiev disse uma casa e um carro foram danificados por destroços de um míssil que foi abatido no céu da cidade, mas não se sabe se alguém ficou ferido. Segundo a administração militar da cidade, uma "empresa industrial" e um jardim de infância foram danificados no Sudoeste da cidade. O prefeito, Vitaly Klitschko, afirmou que 40% da população está sem acesso à energia.

"Os sistemas de defesa antiaérea estão funcionando", disse o governo local em outra postagem. "Fiquem calmos! Mantenham-se abrigados!"

Em Lviv, no Oeste, as explosões deixaram 90% da cidade sem eletricidade, disse o prefeito Andrii Sadovyi. O governador da região homônima, Maksim Kozytsky, disse que a defesa aérea estava operacional e pediu aos moradores que ficassem em abrigos.

Cinco drones foram abatidos no espaço aéreo próximo à cidade de Dnipro, no Sudoeste ucraniano, e um míssil foi derrubado na região de Sumy, no Nordeste. Nos subúrbios de Zaporíjia, no Sul, disse o governador regional Oleksandr Starukh, vários prédios, um gasoduto e uma linha de energia foram danificados.

A ofensiva ocorre na semana seguinte à viagem do presidente Volodymyr Zelensky a Washington, a primeira desde que a guerra começou, em que conseguiu a doação de uma bateria de mísseis Patriot, um dos sistemas de defesa aérea mais avançados que os americanos têm, capaz de abater mísseis de cruzeiro e balísticos de curto alcance. Pouco depois, o Congresso do país de Joe Biden aprovou US$ 44 bilhões em nova ajuda para Ucrânia.

No total, as remessas americanas para apoiar a defesa da Ucrânia contra a invasão russa ultrapassarão US$ 100 bilhões neste ano, divididas em quatro pacotes de gastos emergenciais. O envio de armas feito pelos Estados Unidos e seus aliados foi chave para a contraofensiva que permitiu aos ucranianos vitórias consecutivas nos últimos meses.


Fonte: O Globo